email para contactos:
depressaocolectiva@gmail.com

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

"Perdi anos de vida"


É uma frase que ouço tantas vezes como o hino do SLB. E ouço-a sobretudo  a mulheres, quase exclusivamente a mulheres ( também é verdade que quase só tenho mulheres em terapia). A frase refere-se , na maior parte das vezes, a relações amorosas ( namoros, casamentos, uniões etc), às vezes à adolescência , poucas a situações profissionais. Vale, no entanto, para tudo.

1) Nunca perdemos  anos de vida. O passado é a única coisa que nos pertence. Nenhum governo, religião, pessoa, nos pode tirar o dia de ontem. Por mau que seja, é nosso.

2) A sensação de que desperdiçamos vida remete para uma ideia dela. De que ela deve ser bela, amarela, azul, gorda, magra, espessa, fina. Esta ideia é feita depois de termos vivido os tais anos que julgamos perdidos. Não é assim. 

3) Isto inclui a história de um apaixonado  casal de meia idade. Tiveram filhos, reformaram-se ( remete para um tempo em que as pessoas se reformavam cedito...) e viviam, quando a conheci, uma segunda lua de mel, resolvida que foi uma pequenita questão sexual. A página tantas, ela tem um cancro e morre. Ele ficou aparvalhado, sozinho, , sem rumo. A pergunta: perdeu anos de vida?

7 comentários:

  1. Talvez não faça muito sentido (para mim, claro, faz), mas deixo aqui um poema (e é um poema a que regresso muitas, muitas vezes) de Luis Cernuda:

    EPÍLOGO

    Playa de la Roqueta:
    sobre la piedra, contra la nube,
    entre los aires estás, conmigo
    que invisible respiro amor en torno tuyo.
    Mas no eres tú, sino tu imagen.

    Tu imagen de hace años,
    hermosa como siempre, sobre el papel hablándome,
    aunque tan lejos yo, de ti tan lejos hoy
    en tiempo y en espacio.
    Pero en olvido no, porque al mirarla,
    al contemplar tu imagen de aquel tiempo,
    dentro de mí la hallo y lo revivo.

    Tu gracia y tu sonrisa,
    compañeras en días a la distancia, vuelven
    poderosas a mí, ahora que estoy,
    como otras tantas veces
    antes de conocerte, solo.

    Un plazo fijo tuvo
    nuestro conocimiento y trato, como todo
    en la vida, y un día, uno cualquiera,
    sin causa ni pretexto aparente,
    nos dejamos de ver. ¿Lo presentiste?

    Yo sí, que siempre estuve presintiéndolo.

    La tentación me ronda
    de pensar, ¿para qué todo aquellos:
    el tormento de amar, antiguo como el mundo,
    que unos pocos instantes rescatar consiguen?
    Trabajos de amor perdidos.

    No. No reniegues de aquello.
    Al amor no perjures.
    Todo estuvo pagado, sí, todo bien pagado,
    pero valió la pena,
    la pena del trabajo
    de amor, que a pensar ibas hoy perdido.

    Es la hora de la muerte
    (si puede el hombre para ella
    hacer presagios, cálculos).
    Tu imagen a mi lado
    acaso me sonría como hoy me ha sonreído,
    iluminando este existir oscuro y apartado
    con el amor, única luz del mundo.

    ResponderEliminar
  2. Não, nunca me consumi com anos perdidos, mais "como é que fui tão idiota para aguentar tantos anos?..." por aqui não sei se a malta é muito crente...eu sou um poucochinho. O padre Tolentino Mendonça saiu há pouco com uma pequena tese q tem como nome a "Mística do Instante". Intuitivamente, penso que sempre vivi isso.

    ResponderEliminar
  3. Por acaso já ouvi essa frase e acho que já a pensei também. Será que a ansiedade consome anos de vida? é 1 bicho-papão engraçado...ou não...

    Cumprimentos
    HT

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.